Escola Americana

   A Escola Americana teve seus estudos baseados no Paradigma Informacional, que tinha por objeto de estudo os meios de comunicação em si. Com um pensamento Positivista, procurava aproximar seus métodos ao das ciências naturais, o que trouxe uma visão funcionalista aos estudos. Laswell, em uma analogia com a biologia comparou a sociedade a um organismo vivo, que possui várias instituições e uma delas seriam os meios de comunicação. Assim, a pergunta que orientou os estudos das funções dos meios de comunicação era: qual o papel que esses desempenham na sociedade?
As funções, entre muitas, consideradas básicas são a informativa, a de integração, educativa e de entretenimento. Essa visão funcionalista com base no equilíbrio e manutenção do sistema, apesar de aplicável em várias situações, desconsidera as disfunções e conflitos apresentados dentro da sociedade durante toda a história. Lazarfeld e Merton fazem considerações tanto sobre funções quanto disfunções, por exemplo, a disfunção narcotizante.
Nos estudos dos efeitos da comunicação, o enfoque era como os indivíduos são afetados pelos meios de comunicação. A Teoria da Agulha Hipodérmica teve sua base em uma corrente da psicologia que defendia que “os comportamentos são ‘respostas’ a ‘estímulos’ ambientais” (Reale, 1991:876). Assim, o processo comunicativo foi resumido no esquema mecânico de “estímulo-resposta”, onde seria possível “inocular” o pensamento do emissor no receptor se a comunicação se desse de masseira correta. Esse olhar sobre a comunicação estava vinculado à idéia de sociedade de massa, um conjunto heterogêneo, anônimo, de organização frágil, cuja identidade estava nos meios de comunicação, e pré-supunha uma onipotência dos meios assim como uma vulnerabilidade das pessoas e de seus laços sociais.
A lógica simplista desse modelo não consegue dar solução aos complexos problemas da comunicação. Com essa insatisfação, os estudos se voltaram para o que ocorre no processo, entre o emissor e o receptor. As pesquisas sobre o Processo de Persuasão, também formulada na psicologia, é uma tentativa de aprimoramento do mesmo esquema E-R. Nessa teoria são acrescentados ao modelo E-R os fenômenos psicológicos que intervêm no processo comunicativo como variáveis de E e R, e entre eles. A mais importante generalização dessa teoria é que “as mensagens não são estímulos suficientes em si mesmas, mas ganham sua eficácia se e quando bem combinadas com o quadro e as disposições psicológicas da audiência.”(FRANÇA, Vera, 2003:16)
Com variáveis da audiência, da mensagem e comportamentais, a pretensão não era mais chegar a uma fórmula comunicativa que atingisse a todos, mas, com o controle das variáveis, otimizar a mensagem e conseguir atingir a maioria. Apesar do grande avanço que o estudo da persuasão trouxe, as variáveis se mostram intermináveis, tornando situações cada vez mais específicas e dificultando uma generalização do processo comunicativo. Além de muitas das variáveis e interferências não serem exclusivamente psicológicas.
Para o confronto com essa análise estritamente psicológica, outra pesquisa sobre os meios de comunicação iniciou-se dentro da sociologia, com enfoque nos processos de influência. Analisando a audiência, o objetivo era estudar quais as influências que atravessam as relações sociais e moldam o comportamento dos grupos, e os meios de comunicação são uma delas. Segundo esses estudos, os meios de comunicação não atingem diretamente as pessoas, mas a mensagem é filtrada e recebida, ou não, de formas diferentes de acordo com a localização do indivíduo dentro da sociedade. Os grupos sociais são analisados como variáveis ou influências dentro do processo comunicativo.
Uma importante pesquisa realizada nesse estudo dos efeitos foi a sobre líderes de opinião. Lazarsfeld escreve muito sobre esse assunto e sobre o grande poder que a comunicação face a face tem sobre os meios de comunicação em massa. Líderes de opinião são pessoas mais interessadas e informadas sobre determinado assunto cuja opinião é respeitada por um determinado grupo de indivíduos. Foi criado o conceito de fluxo de duas etapas, onde a mensagem seria emitida, teria os líderes de opinião como mediadores, e então chegaria aos receptores. Esse conceito foi superado quando verificou-se que mesmo os líderes de opinião buscam informações e posicionamentos entre si, transformando o esquema comunicativo em uma rede de influências.
O poder da mídia ainda é admitido, mas não como fator único e suficiente para promover mudanças comportamentais, e é mostrado muito mais eficiente na reafirmação de valores e comportamentos já existentes. Lazarsfeld e Merton ainda falam sobre alguns critérios para que os meios de comunicação consigam promover mudanças comportamentais na sociedade: a monopolização (inexistência de contrapropaganda), a canalização de padrões pré-existentes e a suplementação através de contatos sociais (utilização dos líderes de opinião).
Outra teoria incorporada pelos estudos da comunicação foi a Teoria Matemática. Desenvolvida para fins práticos, esse estudo é bem restrito só traz alguns conceitos e um novo ponto de vista sobre a comunicação como auxílio para explorar algumas características diferentes do processo comunicativo. A comunicação é vista como um processo com componentes que se articulam dentro de uma certa organização, cuja sistematização traria um controle sobre o fenômeno. Duas idéias centrais são a de ruído e do equilíbrio do grau de informação. O ruído é tudo que prejudica a transmissão da mensagem e, a princípio, não deveria fazer parte do processo. Importando a idéia para o campo, propriamente dito, da comunicação, o ruído, mais que falhas mecânicas, pode ser considerado uma mensagem em outra língua ou uma palavra desconhecida pelo receptor. Assim, o problema a ser superado para uma transmissão perfeita é o ruído. O equilíbrio do grau de informação trabalha com dos conceitos opostos e extremos: a entropia e a redundância, onde haveria falta de uma mensagem.
A Teoria Matemática não se preocupa com o conteúdo da mensagem, mas como a mensagem, seja ela qual for, chegue ao destinatário da mesma forma que foi emitida, com o mínimo de ruído. Essa visão do processo já foi duramente criticada por ser extremamente rígida, mecânica e não tratar da produção de sentido. Lembrando que essa é uma teoria elaborada para fins práticos, mais fora do campo da comunicação e dentro do campo das exatas, é razoável que ela não tenha a pretensão de explicar todos os aspectos e particularidades do processo comunicativo. Se tratada como o que realmente é: um olhar diferente, dentre tantos outros, sobre o mesmo objeto, mesmo com suas obvias limitações (como todas tem), essa teoria ajuda a mostrar como a comunicação é complexa, se manifesta de diferentes formas, e muito dificilmente, talvez impossível, seja completamente entendida por um único olhar.
Entender a comunicação exclusivamente por um modo de análise chega a ser um retrocesso, uma volta ao Positivismo e uma volta ao início do texto. Por fim, o Paradigma Informacional que fundamentou a Escola Americana, foi achado insuficiente por alguns, e seu objeto muito restrito (os meios de comunicação), o que levou ao desenvolvimento do Paradigma Relacional.


FRANÇA, Vera. Capítulo 2. Curso Básico de Teoria da Comunicação. BH: UFMG, 2004. Mimeografado.

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